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Vim da Água



Vim da água. Placenta de beira de mar. Nasci nas areias da Guanabara, aprendi os molejos das ondas calmas e o temperamento das ressacas. A areia sempre me foi chão e castelo. Até descobrir que as dunas se modelam pela dança do vento. E aí fui viajar...


No meu balaio, tecido com as bênçãos de pai e mãe, forte como um ventre maduro e de boca aberta pro céu, fui colhendo chamamentos e livramentos. Um após o outro, conhecendo desde cedo a dor e a delícia de ser. Menina, moça, mulher...


Fui empilhando desejos e receios e descobrindo assim os esteios de minha missão. Foi cedo o convite pra ressignificar, mesmo antes até de saber que tudo era já meio ao contrário do que o mar ensinava. Tive então que entrar no jogo de máscaras de quem vem da água mas aprende a respirar no seco. E desenvolvi pulmões potentes pra tal...


Me engoliu o Tao. Mastigou, deglutiu, me repariu. E me reparou. Abriu os caminhos pra mais. Tatuou na minha alma a paixão pelas cousas cruas, naturais, viscerais. Me apresentou a morte e a vida dentro dela. Comecei a gostar das cousas da terra. Tanto que entendi que gente precisa de gente pra se curar de gente. Então comecei a trabalhar.


Tenho em mim a memória ancestral do Sacerdócio, a devoção original dos Povos primeiros e a curiosidade irrequieta das gerações pós Revolução. Sou Artivista da Força Vital, carrego a bandeira da Confiança na Autonomia e na Interdependência, me reconheço jovem e aprendiz dos Mistérios neurais... Me fascina reconhecer a cada dia as cicatrizes do existir e testemunhar a beleza de nada saber. Só seguir.


Terapeuta do Corpo, Abridora de Caminhos, Sustentadora de Espaços do Descobrir-se no junto. Pois que é no junto que me reconheço bordas e imensidão... Conquistei aval pra propor ousadias à gente que confia em gente pra se curar. E vem sendo assim desde que me percebi gente. Gosto de gente. Gente que esquece e se lembra que precisa de gente pra ser gente.


Enquanto o mar me permitir, estarei a servir esse propósito: aprender a ser gente e apoiar outra gente a também se ser.


Esse é meu ofício.

Esse é meu lazer.


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MARIANA FRANÇA

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